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Um Amor Incômodo, de Elena Ferrante



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, é um livro que me atravessou com suas camadas de silêncio, vergonha e desejo.


A história nos apresenta Délia, que retorna à sua cidade natal para o funeral de sua mãe, Amália, e se vê envolvida em memórias confusas, contradições e mistérios. É uma narrativa que fala sobre mães e filhas, mas não só isso: fala sobre o amor que fere e confunde, sobre o que escapa ao que podemos nomear, sobre fragmentos de memória que desafiam a realidade dos fatos e se dissolvem no tempo emocional.


Ferrante narra em primeira pessoa, usando o fluxo de consciência como um convite irrecusável para mergulhar nos pensamentos e sentimentos mais íntimos da personagem. São muitas lacunas, pontas soltas que nos desestabilizam e nos fazem refletir sobre as próprias tentativas de dar sentido ao que sentimos.


É uma escrita que acolhe as dores e as contradições sem medo, mas também sem respostas. E me fez pensar em por que tantas vezes necessitamos de respostas ou supomos que faríamos melhor.


Foi um mergulho intenso em temas que me tocam: as relações entre mães e filhas, o lugar da mulher e a violência que muitas vezes acompanha o amor. Esse amor que nem sempre cabe nas palavras, que incomoda e desafia.


De qual amor incômodo Elena escreveu? Da mãe e filha? Da mãe com o amante? Do pai e da mãe de Délia? Ficam as perguntas.


No encontro do clube de leitura, refletimos muito sobre essas lacunas na narrativa, e uma das mulheres trouxe essas frases do livro:


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“Falar é encadear tempos e espaços perdidos.”


“Palavras para se perder ou se encontrar.”


As palavras são caminhos que desvendam histórias, que nos ajudam a juntar fragmentos de memória espalhados no corpo e no tempo emocional, aquele que não se mede no calendário. Contar de si não é como uma fotografia congelada no tempo, mas como uma série de narrativas que se tornam possibilidades de perdermos e nos encontrarmos em meio a tudo aquilo que não tem começo ou fim.


Você também sente que, às vezes, as palavras não dão conta do que sentimos?


Roberta Rocha


Psicóloga de meninas e mulheres | Terapeuta de casais e famílias | Facilitadora de encontros entre mulheres

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