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Feliz dia da psicóloga — mas não foi sempre assim…


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Neste dia sempre passa um filme na minha cabeça. Lembro de como fiz a escolha corajosa de um curso que “não dava dinheiro” e, justamente naquela época, era o dinheiro que eu precisava para ajudar meus pais.


Escolhi um curso elitista, com pressupostos e paradigmas eurocentrados e “americanizados”, mas estava numa faculdade dita “de segunda linha”.


Naquele tempo não me dei conta de tudo isso, estava feliz e já me sentia privilegiada por ingressar num curso superior — coisa rara de onde venho.


Durante a graduação, não senti qualquer motivação dos professores para estar na área clínica: locar uma sala, esperar pacientes chegarem… tempo era um privilégio que eu não tinha.


Depois de formada, segui na área de RH, “a que dava dinheiro”. Foram 15 anos em que aprendi tanto, fiz tanto, e sinto muito orgulho dessa área da psicologia pouco valorizada no meio acadêmico. Afinal, a psicologia tem suas preferências.


Estar na área clínica não era realidade para muitas pessoas de onde me formei. Quando fiz minha transição de carreira, tentei uma bolsa de mestrado numa renomada universidade, ouvi que seria difícil me concederem a bolsa por eu ter vindo de “outra universidade”.


Na época da minha graduação, não havia políticas públicas que proporcionassem mais acesso à universidade. Eu sequer fui incentivada a tentar uma vaga numa instituição pública. Foi aí que entendi a frase dita e não dita: “isso não é pra você” que, às vezes, ainda ecoa em mim.


Sim, estudei numa faculdade particular, de qualidade duvidosa para o olhar classista de quem julga do alto dos seus privilégios. Eu mesma já ouvi que o ensino superior ficou banalizado depois de se tornar mais acessível.


Fiz dos meus marcadores — filha de pais que não tiveram a possibilidade de completar os estudos; estudante de escola pública; mulher criada na periferia de SP — uma ponte para estar onde estou: na escuta de famílias, meninas e mulheres. Isso tudo caminha comigo para onde eu for.


E há quem diga que na psicologia não é lugar de ativismo.


Roberta Rocha


Psicóloga desde 2007 ♥️

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