Quarto de despejo
- Roberta Rocha
- 18 de mar.
- 1 min de leitura

Comecei a ler Quarto de Despejo e me lembrei da primeira vez que tive contato com o livro na escola. Recordo da professora Tânia, de português, levando alguns trechos para discussão em sala. Naquela época, ler de forma fragmentada talvez tenha me protegido do impacto que é acompanhar o registro diário de Carolina Maria de Jesus.
Desta vez, por vezes precisei parar para respirar. Pegava outro livro, lia uma poesia, buscava uma leitura mais leve, mas, mesmo assim, não dei conta de terminar.
A escrita de Carolina não permite distanciamento. Seu diário nos arrasta para dentro da favela do Canindé, em São Paulo, nos anos 1950, onde a fome, a miséria e a luta diária pela sobrevivência são constantes.
Ela narra de forma direta, sem filtros, sua experiência, sem abrir espaço para romantizações ou relativizações. Tampouco culpa quem vive em situação de extrema pobreza. Carolina tem consciência de sua condição social e das humilhações que sofre por ser mulher, negra e pobre, e também sabe do que lhe é negado.
Sua voz, silenciada por tanto tempo pela exclusão, encontrou na escrita uma forma de ecoar. Quarto de Despejo é mais do que um testemunho histórico—é uma denúncia, um lembrete incômodo e necessário de que, infelizmente, aquilo que Carolina descreve não ficou no passado.
Roberta Rocha
Psicóloga de meninas e mulheres | Terapeuta de casais e famílias | Facilitadora de encontros entre mulheres
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