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Você descansa sem culpa?


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Estou de férias.


Mas continuo lendo e escrevendo, porque não dá pra tirar férias daquilo que me salva todos os dias.


Resolvi escrever depois que tirei esta foto: um momento de descanso na rede, no quintal, com minhas cachorras e o livro que escolhi para as férias.


Pensei em postar.


Sem textão.


Só por postar mesmo.


Mas logo desisti, porque me senti culpada por estar ali.



Pensei na escala 6x1.


Pensei na taxação dos super ricos.


Pensei no descanso que ali eu gozava como privilégio e não como um direito acessível a todas as pessoas.



A culpa gera uma angústia. Mas também indica uma conexão.


No meu caso, seguindo o fio dessa culpa, chego à minha consciência de classe, que antes de ser teorizada, foi vivida.


Vivi parte da minha vida mais sobrevivendo do que vivendo.



Mesmo que hoje eu possa desfrutar de melhores condições, o conforto ainda não é tão confortável. Tem sempre uma voz me lembrando que, de onde eu parti, muitos ainda ficaram.



E ainda bem que tem essa voz, que me leva até a culpa. Neste caso, uma culpa que me atravessa como postura ética.


Ela me faz transitar da paralisia que a culpa pode causar para a responsabilidade possível, a partir do lugar que ocupo hoje.



Sim, sinto culpa ao descansar.


Porque o descanso, para muitas, ainda precisa ser politizado para virar direito.



Sim, descanso com culpa mesmo.


Parece contraditório, mas talvez seja também uma forma de resistência.



Roberta Rocha


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