Ao mesmo tempo, você permanece em tudo
- Roberta Rocha
- 10 de ago.
- 2 min de leitura

Estava procurando uma foto nossa ou sua para postar. Fiquei chateada por ter perdido parte das nossas fotos. Pensei: poxa, vou ter que repetir foto. Aí veio um aperto no peito.
Você resistiu e não teve celular. Não tenho um áudio para ouvir sua voz, não tiramos inúmeras selfies. O seu último perfume, num descuido meu, quebrou. O Facebook você teve por menos de um ano.
A sensação do que você deixou de viver é a parte mais dilacerante da sua ausência, deste luto vivido aqui com intensidade e honestidade. Como você nos ensinou vivendo sua vida.
Ao mesmo tempo, você permanece em tudo: nos meus diálogos internos, no meu olhar, nas nossas conversas com a família e amigos, nas ondas do mar, nas músicas que aprendi a amar com você, no meu ativismo político, na minha escrita, na Maria, no Roquinho, no Léo… ah, papitos, o seu amor pelo Santos vive neste sobrinho.
Você vive na minha mãe, que apesar da falta que você faz para ela, escolhe viver todos os dias.
Você é presença na ausência. Esse é o paradoxo da morte que parece acabar com tudo, mas não com a vida vivida.
Esses dias, uma amiga querida perdeu o pai. A despedida dele se pareceu com a sua. Cheia de gente, de amor e presença. Voltei para aquele dia, o mais difícil que vivi. E foi nesse sentir do meu corpo a sua ausência que pude ser presença para ela, que agora está naquela fase em que nada faz sentido. Senti com ela e pude dizer que, em algum momento, ela também dará presença na ausência.
Hoje não é um dia que dói mais em mim. Todos os dias sou atravessada pela sua ausência e aceito porque isso só é possível porque você foi presença - presente.
Te amo, papitos.
Betinha. ♥️
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