O que estas três produções têm em comum?
- Roberta Rocha
- 9 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
A voz das mulheres vítimas. Ainda que ecoada por outras vozes femininas, essa voz é constantemente silenciada, julgada e deslegitimada por uma estrutura sólida, composta pela justiça (feita pelos e para os homens), pelos aspectos socioculturais e pela socialização de homens e mulheres.
O caso Maníaco do Parque (1998) expõe a vulnerabilidade das mulheres em espaços públicos, historicamente dados aos homens. As vítimas, abordadas enquanto procuravam trabalho, foram atraídas por uma proposta falsa, violentadas e mortas. Lembro de ouvir muitas pessoas chamando essas mulheres de “burras”, como se fossem culpadas pelo que lhes aconteceu. No filme, uma jornalista investiga o caso e amplifica as vozes das vítimas que não puderam se defender. Há uma cena fictícia, que marcou profundamente, em que ela confronta o assassino e se revolta com sua frieza.
O caso Eliza Samúdio (2010) é um exemplo de como a violência pode escalar: começa com ameaças e culmina no feminicídio. Eliza denunciou, expôs as agressões, mas não foi protegida pelo Estado nem pela opinião pública. Por ser uma mulher que teve um relacionamento com um jogador famoso, sua denúncia foi deslegitimada com julgamentos machistas: “ela não presta” ou “deu o golpe da barriga”.
O caso Robinho (2013) traz agora, em uma série documental, a voz da vítima, que antes era abafada pelos áudios do jogador e seus “parças”. Ouvir essa mulher nos convida a repensar os julgamentos normalizados pela sociedade: como a ideia de que uma mulher em uma balada, bebendo e se divertindo, não pode ser vítima — ou pior, merece ser violada. É como se o desejo feminino fosse um convite para que os homens exerçam, com violência, o poder que a sociedade lhes concede.
O futebol, ambiente idolatrado e dominado por homens, revela essa lealdade masculina, que

muitas vezes impede até mesmo os chamados “homens do bem” de reconhecerem as micro e macroviolências como violência de fato. E se não nomeamos, não existe.
Até quando as vozes das mulheres serão silenciadas?
Roberta Rocha
Psicóloga de meninas e mulheres | Terapeuta de casais e famílias | Facilitadora de encontros entre mulheres
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