Somos ambivalências
- Roberta Rocha
- 24 de set.
- 1 min de leitura

Não gosto de foto minha de perfil.
Repetia toda vez que via.
Teve um tempo em que eu não suportava ver minhas imagens nesse ângulo.
Logo apagava.
Se me perguntam o que não gosto, não tenho muito o que dizer, simplesmente, não gosto.
A gente não precisa saber, rigorosamente, o porquê de tudo que não gosta. Até porque esse “tudo”, além de subjetivo, é ilusório.
Estes dias, ao ver esta foto, percebi algo que não tinha visto antes. Também não sei dizer o
que exatamente. Talvez seja meu olhar, que tem sido mais gentil. Ainda não tão espontâneo como eu gostaria, mas já condicionado a escutar aquela voz que está ali.

Uma voz que diz coisas sobre nós, talvez intocadas, talvez ainda não foram contaminadas por exigências que nem sabemos de onde vêm, mas que estão ali com volume alto demais, nos distraindo daquela que precisa ser amplificada.
Somos ambivalências.
Incoerências.
Contradições.
Estou aprendendo a olhar para partes minhas que não gosto, que ignoro e, mais importante, para aquelas que desejo para mim.
Desejo que a luz desse pôr do sol ilumine minhas sombras , aquelas que, ao se revelar na luz, geram outras sombras.
As que tenho medo de mostrar.
Não se trata de dissociar: onde há luz, há sombra.
Partes que gostamos. Partes que não gostamos. Todas juntas.
Que sombras suas ainda resistem à luz?
Roberta Rocha
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