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Uma história que nos lembra da complexidade de uma mulher

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Ler Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salem pela forma como Maryse Condé escolhe narrar essa mulher e sua história é uma mistura de sensações.


Uma ambivalência que, em alguns momentos, convida ao silêncio, mas que imediatamente nos incomoda por silenciar.



Maryse conta essa história não a partir do tribunal, da acusação ou da sentença, mas do cotidiano, do corpo, dos afetos e das contradições.



Tituba aparece como mulher inteira: desejante, contraditória, ferida, amorosa, rebelde.


Uma mulher que insiste em ser quem é, apesar de tudo o que lhe foi imposto.



Essa escolha narrativa desloca o olhar e evidencia, ainda mais, a barbárie da escravização de pessoas pretas, apresentada por outra perspectiva.



O que mais me atravessou na leitura foi essa recusa em reduzir Tituba ao sofrimento ou ao seu destino.


Maryse não romantiza a dor, mas também não permite que ela seja o único lugar possível a partir do qual se fale de Tituba.



Neste tempo em que mulheres seguem sendo silenciadas, mortas e transformadas em números, ler uma história que insiste em nos lembrar da complexidade de uma mulher é profundamente político.



Uma complexidade que o patriarcado capitalista e racista não consegue sustentar, a não ser tentando queimar, simbolicamente ou não, aquilo que não controla.



Roberta Rocha


Psicóloga feminista


Idealizadora do Clube do Livro Sobre Nós, Mulheres

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